A classe média quer consumir
Os profissionais de marketing estão diante de um desafio sem precendentes. Não é o marketing digital (somente). Na minha opinião esse desafio não diz respeito à tecnologia mas sim a demografia.
O relatório Tendências Mundiais 2030- recém-publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança,(ISS) com sede em Paris, indica que os componentes da classe média mundial passarão das cerca de 2 bilhões de pessoas atuais para 3,2 bilhões em 2020 e para 4,9 bilhões em 2030.
Como a projeção da população mundial será de pouco mais de 8 bilhões, pela primeira vez na história termos mais pessoas na classe média do que na pobre.
Embora existam adequações regionais, o ISS considera “classe média” ter uma renda disponível entre US$ 10 e US$ 100 por dia. O certo é que haverá uma grande redistribuição do poder econômico. Os países mais populosos serão responsáveis pelo aumento da demanda e do consumo por essa parcela da população. Hoje a China tem 12% de sua população na classe média mas em 2030 poderá ter até 74%. Na Índia 90% da população estará na classe média até 2040.
Brasil
No Brasil, estima-se que 70% da população fará parte da classe média em 2030. Isso levará a América Central e América Latina ter mais consumidores na classe média do que a América do Norte.
Essa dinâmica vai produzir impactos no consumo. Alguns dos exemplos que já começam a aparecer no mercado brasileiro:
1) Planos de Saúde: As deficiências na saúde pública e o aumento da renda da classe média está criando uma legião de novos consumidores.
2) Ensino privado, níveis fundamental e médio: Segundo Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, a nova classe média brasileira cria um movimento de migração na educação. “É uma nova fronteira de classe. Há um consumo maior, a família compra um carro, passa a comer mais fora. Depois disso passa a aspirar mais coisas, como o ensino particular. Ela se dá conta que educação é importante para a manutenção na classe média e até para subir de classe”, avalia.
O jornal Valor, (27/04) publicou um estudo demonstrando que do ano de 2002 a 2011 o setor público perdeu 480 mil alunos por ano e o mercado privado ganhou 110 mil novos alunos anualmente.
3) Desejos das mulheres: As mulheres são o segmento classe média mais beneficiado pelo aumento da renda. Segundo a pesquisa “As poderosas da nova classe média” alguns desejos se destacam.
– 6,4 milhões compram algum tipo de congelado todo mês
– 16 pares de sapato é a média entre elas (na classe D, o número é inferior a 5 pares)
– 70% acreditam que cuidar da beleza aumenta as chances de sucesso na vida
– 39% querem emagrecer
– 14% delas possuem plano odontológico – e o mais novo desejo é corrigir dentes tortos e fazer clareamento
– 59% consideram cozinha a parte mais importante do lar – e querem uma cozinha planejada
– 50,8% vão trocar de celular nos próximos 12 meses
– 61% fazem consultas e exames preventivos de saúde (índice igual ao das mulheres A/B)
– 72% afirmam cuidar da saúde de toda a família (na elite, o número é 63%)
– 56% compram os remédios da família
– 38% querem fazer curso de inglês
– 36% querem fazer faculdade
– 72% vão viajar nos próximos 12 meses
– 42% das que vão viajar o farão de avião
– 20% querem viajar para o exterior
As empresas terão alguns desafios:
- Como compreender o que é valor agregado a essa massa de consumidores?
- Como atingir esse público tão grande?
Habilitem-se.
Classe média quer TV a cabo: (Folha de S. Paulo)
Fontes: Valor Econômico, Financial Times, Brasil em Foco.