Segundo o relatório da National Climate Assessment sobre mudanças climáticas, as agências de seguros também terão papel no combate ao aquecimento global
A National Climate Assessment lançou no dia seis de maio pela Casa Branca, seu terceiro relatório sobre mudanças climáticas, representando o trabalho de 240 pesquisadores e cientistas envolvidos na pesquisa. O parecer é o mais abrangente sobre os impactos das mudanças climáticas nos Estados Unidos e apresenta boas ideias e soluções pra o problema, mas uma importante questão pode passar desapercebida durante a leitura.
Um trecho da apresentação diz, em tradução livre, que “mecanismo disponíveis comercialmente, como seguros, também podem oferecer proteção contra perdas causadas por mudança climática”. Em um artigo para o The New York Times, o professor de economia da Universidade de Yale Robert J. Shiller afirmou que assunto é importante e deve ser aprofundado, já que existe um risco substancial de que os esforços para deter o aquecimento global não sejam suficientes para combater suas consequências.
As implicações são surpreendentes, e o setor privado deve ser estimulado e receber apoio do governo para ajudar a prevenir as perdas financeiras devastadoras que podem vir a ocorrer.
Para o economista, um grande problema é que cada país tem seus próprios objetivos econômicos e ideais nacionalistas para não impedir, na medida necessária, os ataques ambientais, como o desmatamento, ou a emissão de gases poluentes na atmosfera. Esse comportamento beneficia uma ou outra economia, mas gera uma conta que o mundo todo vai todo vai ter que pagar, incluindo nações menos desenvolvidas que não possuem meios de lidar com os efeitos das mudanças climáticas e da poluição.
Um exemplo disso é caso da petroleira americana Chevron, responsável pelo vazamento de 2,4 mil barris de petróleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro em 2011. As ações da empresa também trouxeram consequências para outros países: existe um precedente contra a Chevron, que teria inviabilizado a produção de um campo de petróleo no Cazaquistão, na Ásia.
Embora o caso da petroleira não esteja necessariamente ligado com as mudanças climáticas, suas ações são um bom exemplo do descaso de grandes organizações internacionais quanto às questões ambientais e seu impacto na economia e na vida de outros povos.
Em março deste ano, um relatório emitido pelas Nações Unidas identificou com “grande confiança” uma variedades de riscos que serão sentidos por diferentes povos de maneira desbalanceada, se tratando, em tradução livre, de “riscos de morte, ferimentos, saúde prejudicada e meios de vida interrompidos” em baixas zonas costeiras e em pequenas ilhas. E isso não é tudo. A distribuição de alimentos poderá quebrar, pode não haver suficiente água potável e irrigação dos solos e os ecossistemas serão abalados.
Assim, Shiller destaca que o mundo precisa estar preparado para potenciais desastres inesperados, especialmente aqueles que atingem lugares e circunstâncias específicas, muitas das quais não podem ser previstas. É por isso que o aquecimento global precisa ser introduzido na pauta de instituições privadas de gestão de riscos, tais como agências de seguros e de securitização, já que essas organizações possuem profunda experiência em suavizar efeitos de problemas inesperados.
Mesmo assim, essas instituições vão precisar de novos meios para lidar com acontecimentos de tamanha dimensão. Os governos vão precisar oferecer a essas empresas um incentivo de lucro para se preparar para estes desastres. Afinal de contas, um seguro automobilístico só é útil se você comprá-lo antes do carro despencar de um viaduto.
Felizmente, ainda não é tarde para se prevenir contra alguns riscos climáticos, embora a questão dos seguros ainda não tenha sido um elemento importante na maior parte do debate sobre o clima.
Já existem apólices específicas que podem prevenir contra riscos causados pelo clima. Uma estação de esqui já se segurar contra uma queda de neve inadequada, que prejudique suas atividades, e uma cidade pode se proteger contra uma possível grande nevasca no próximo inverno. Há também títulos de catástrofe como o de 1.5 bilhões de dólares da Everglades Re Ltd, com duração de três anos.
Para Shiller, o problema de instrumentos como estes, é que eles tendem a se focar em riscos de curto de prazo e não protege contra o custo crescente que os desastres poderão atingir nos anos futuros. Se os problemas do aquecimento global se tornarem mais graves, eles vão muito provavelmente ser de longa duração, levantando algumas questões complexas e difíceis de quantificar. Alguns fenômenos, como os tornados e furacões, podem continuar intermitentes, mas sua severidade pode aumentar em padrões geográficos complexos e de difícil previsão.
Mesmo assim, tem se feito progresso nesta questão. O Caribbean Catastrophe Risk Insurance Facility (Seguro caribenho para catástrofes) é um exemplo recente de um compartilhamento institucional para mudanças climáticas. Há também oAlliance of Small Island States(Aliança dos pequenos Estados Insulares), fundado em 1990 como uma resposta aos fenômenos climáticos. O grupo representa 5% da população mundial a as ilhas que fazem parte estão espalhadas ao redor do mundo, mas se o nível do mar subir consideravelmente, todas elas serão afetadas. Esses países geralmente não são suficientemente grandes e não pertencem a um Estado maior que que pode ajudar os moradores do litoral no caso de uma catástrofe climática. Por isso A Aliança tem defendido uma abordagem internacional para lidar com tais perdas e danos.
Shiller finaliza o artigo ressaltando que ações como essas são apenas o começo. Existe uma necessidade crucial de trazer inovação para as instituições de controle de risco. Elas precisam se tornar mais flexíveis para clarificar seus status legal em longo prazo, desenvolver mecanismos e políticas que possam servir de base para apólices em longos termos e educar o público sobre o assunto. Mais importante do que isso, nós precisamos de ações concretas pra criar soluções que sejam de real ajuda para as vítimas da mudança climática.
O conteúdo completo do relatório da National Climate Assessment pode ser acessado aqui.
Foto: Tarawa, em Kiribati, um membro da Aliança dos pequenos Estados Insulares enfrentando o aumento do nível do mar. Créditos: Kadir Van Lohuizen / NOOR.
Fontes: