Informações sobre o evento

TEORIA U NA PRÁTICA. Como acionar e utilizar a inteligência coletiva? (*)

A Teoria U, proposta nos estudos de Otto Scharmer, Peter Senge e Jawroski,  preconiza percepções e atividades em diferentes níveis de profundidade, utilizando integradamente a Mente, o Coração e a Vontade.

O uso da letra U significa pararmos em nossa caminhada cotidiana e abandonarmos o conhecido e, a partir daí, descer pelo lado esquerdo da letra, alcançar a base para então se dedicar à prática meditativa do Presencing.

Nesta etapa, o objetivo é acessarmos a nossa fonte inata de sabedoria e regeneração, lugar especial onde o futuro emergente e se revela para nós. Em seguida, o caminho segue pela crescimento através da subida pelo lado direito da letra U, cristalizando e consolidando experimentalmente o novo ou futuro emergente que se revelou a nós.

No sistema ISOR (r) proposto no Brasil pelo Instituto Holos, o método foi adequado à ativação plena da inteligência coletiva e pode ser usado em mentoria, coaching, facilitação de grupos, etc. Veja na imagem 1 abaixo:

Figura 1 – Bases da Teoria U

 

Usando o potencial da Teoria U, nos dias 17 e 18 de Setembro de 2018, foi realizada em Brasília uma reunião de trabalho, com debates, análises e decisões envolvendo equipes técnicas da  UNESCO e da Fundação Renova.

O potencial do grupo de participantes foi dirigido à nova configuração de Objetivos, Resultados Esperados e atividades com vistas a viabilizar, no futuro um acordo de cooperação entre as duas entidades.

O importante é que ao final dos trabalhos mais de 80% das propostas eram novas, demonstrando que as pessoas se abriram “ao que emerge”.

Para sucesso da aplicação prática, o facilitador deve ter em mente alguns aspectos relevantes:

a) Planejamento: Na modelagem do encontro, o facilitador deve estar atento para que sejam contempladas as diversas fases necessárias que possibilitem criação de um estado no grupo: mente aberta, coração aberto e vontade aberta. Importante respeitar os ritos e modelos do cliente para evitar interferência no campo.

Uma dificuldade no planejamento é a imprevisibilidade dos tempos de duração de cada fase. No caso dessa prática, foi previsto o presensing para as 14 horas do primeiro dia mas ele só ocorreu às 18h30 desse dia.

Isso fez com que vários participantes se demonstrassem inquietos pois queriam “partir já pra definir o que fazer”.

A ansiedade é um forte sabotador do acesso à sabedoria interior; Se o grupo não mergulhar no U, ficará na superfície, com ajustes mecânicos ou propostas óbvias.

b) Formação de campo tensorial: Se não houver clima adequado, a sabedoria interior das pessoas não será ativada.

Esse clima vai desde o primeiro momento com a apresentação e envolvimento das pessoas. Podem ser usadas várias técnicas para isso. No decorrer do trabalho, observar a dinâmica do grupo e os jogos de poder, identificando o melhor momento para a base do U (presensing).

Algumas pessoas “abandonam” o trabalho, outras ficam impacientes porque pretendem mais velocidade, etc. O facilitador deve estar atento; Só intervir se necessário.

O grupo tem a sabedoria, Ela precisa ser observada e orientada. A menor intensidade de intervenção do facilitador pode significar que o trabalho está bom.

A prática da meditação por meio de técnicas de mindfulness é opcional. No ambiente organizacional há uma certa resistência  a essas práticas.

c) Nível coração aberto: A maior parte das equipes acreditam que o pensamento trará as respostas. Isso não é verdade. Para redirecionar é preciso coração aberto. Veja o que diz Marcos Wunderlich a esse respeito:

“REDIRECIONAR: Inicia-se então a abertura para uma nova direção, a partir da conexão racional e percepção sensitiva e intuitiva com o campo da realidade. Esta etapa significa contatos com as várias pessoas envolvidas, obtenção de dados, conhecimentos, e tudo o mais que estiver inserido no campo, de forma compreensiva e amorosa, sem avaliações e julgamentos, apenas para sentirmos profundamente o que somos. Na linguagem do Sistema ISOR® de Coaching & Mentoring, o campo é denominado de Tensor por se tratar de um sistema que tem energia dinâmica e cuja principal propriedade é orientar (dar direção e sentido) os acontecimentos, a ordem interna dos eventos.” 

No evento da UNESCO foram “surgindo” pessoas e profissionais cuja presença não estava originalmente prevista.

Essas pessoas contribuíram para um clima de abertura e de amor entre as equipes pois sinalizaram contribuições efetivas e inspiraram insights.

d) É muito difícil “DEIXAR IR”.  O nível de VONTADE ABERTA é o mais profundo e desconhecido para pessoas sem familiaridade com processos dessa natureza.

É o mundo sutil da sabedoria, da inspiração e da intenção profunda. O passado, presente ou futuro são simultâneos no aqui-agora.

O primeiro passo é “Deixar Ir”: nesta etapa deixamos desaparecer em nossa mente todos os passos anteriores da descida do lado esquerdo do U e ficamos literalmente vazios. Nenhum julgamento, avaliação ou significados mentais. Apenas o vazio.

Pensamentos não devem ser seguidos; eles vem e vão naturalmente, mas não nos agarramos a eles e nem criamos significados mentais a partir deles. Esta é a condição do Presencing, que significa simplesmente estarmos presentes, vivos, atentos e vazios frente à nossa fonte primordial de sabedoria, que assim passa a ter espaço para agir e permitir que surjam naturalmente os insights e o futuro emergente.

O futuro se apresenta já perfeitamente pronto e delineado para nós, ou seja, ele já existe, apenas permitimos que estas informações ou insights se revelem para nós.

No evento, alguns grupos disseram: “Vamos apagar tudo e começar do zero”. Tiveram coragem e vontade aberta.

Na fase seguinte pelo menos duas pessoas disseram algo assim: “Eu estava muito preocupado com medo de que não fosse produzido nada…”.

Vejam na figura 2 como foi a prática do U no decorrer de todo o encontro.

Figura 2 – Fases do U no trabalho UNESCO/RENOVA

 

Ao final de dois dias o grupo voltou à superfície do U. Voltar à superfície é muito importante pois é quando partimos para a prática. Nessa fase são modelados os planos de ação que deverão ser objeto de aprovação pelos envolvidos.

(*) Evaldo Bazeggio, formador de mentores com uso de técnicas da sabedoria de campo, foi o facilitador dessa atividade.